SEPSE
A importância de seu diagnóstico preventivo para a saúde do paciente

A sepse, popularmente conhecida como septicemia, nada mais é do que o resultado ou a manifestação do resultado de uma infecção grave. Quando nos infectamos por algum micro-organismo (em geral, bactérias), tanto sua proliferação, quanto a resposta do nosso sistema imunológico frente a essa proliferação, resultam em inflamação.
Assim, quando essa resposta inflamatória se torna exacerbada e descontrolada (decorrente de uma infecção), se dá o advento da “sepse”.
A sepse – essa inflamação no corpo inteiro decorrente da infecção - se manifesta nos mais diversos órgãos, tecidos e partes do corpo:
no cérebro, alterando o nível de consciência e fazendo confusão mental; no rim, prejudicando sua função de filtração do sangue; no coração, atrapalhando seu funcionamento; nos diversos vasos sanguíneos, abaixando a pressão arterial (resultando por vezes na necessidade de medicações para subir a pressão ou mantê-la em níveis adequados).
Tais alterações orgânicas fazem com que o paciente acometido por tal infecção grave, seja um paciente mais delicado – na linguagem dos intensivistas, médicos especialistas no paciente grave, um paciente “critico” .
E é o principal trabalho e a principal missão do médico intensivista, conduzir apropriadamente esse paciente “critico”; seja tratando ou minimizando as diversas disfunções orgânicas, como também, tratando a infecção grave.
A condução apropriada dessa enfermidade é através da identificação/reconhecimento precoce (diagnostico) e tratamento imediato.
A demora no reconhecimento dessa patologia acarreta em um atraso do tratamento e assim, um agravamento da infecção, uma progressão das várias disfunções orgânicas e uma piora do desfecho clinico.
Então, desde o começo do século consensos e campanhas envolvendo discussão exaustiva sobre o tema “sepse” vêm ocorrendo:
SEPSIS I, SEPSIS II, SEPSIS III, SURVIVING SEPSIS CAMPAING I (campanha de sobrevivência à sepse), II E SURVIVING SEPSIS CAMPAING III – esta última ocorrendo em 2021.
Tais discussões culminaram numa evolução gradativa de conceitos, permitindo progressivamente uma identificação mais precoce e assim um tratamento mais efetivo.
No que tange ao papel de “triagem” de um paciente em risco potencial de sepse, persistem ferramentas mais antigas (porem efetivas devido a sua alta sensibilidade) como critérios de SIRS (Systemic Inflammatory Response Syindrome ou Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica), quanto ferramentas mais novas como qSOFA (Quick SOFA – Sequential Organ Failure Assesment ou “rápida” Avaliação sequencial de Falência Orgânica).
Os critérios de SIRS
envolvem alterações de temperatura (febre ou hipotermia), alterações de frequência cardíaca, alterações de frequência respiratória (taquipneia) e contagem de leucócitos (células ditas “brancas” ou de defesa).
Os critérios do
qSOFA envolvem o nível de consciência (escala de coma de Glasgow alterada), a frequência respiratória e a pressão arterial. Quando o paciente apresenta essa triagem dita “positiva”, seja através do critério SIRS (mais sensível) ou através do critério qSOFA (consagrado a partir dos últimos consensos: SEPSIS III e SURVIVNG SEPSIS CAMPAING III) associado ao elevado risco de infecção, já está autorizado o início do tratamento.
Muito embora a triagem supracitada se manifeste como positiva, o diagnostico final de sepse ocorre apenas com a ferramenta descrita como SOFA ( Sequential Organ Failure Assesment ou Avaliação Sequencial de Falência Orgânica).
O
SOFA, engloba critérios laboratoriais e clínicos, como: relação de oxigenação do paciente, contagem de plaquetas, nível de bilirrubinas, pressão arterial, nível de consciência e volume de diurese ou nível de creatinina, sendo que cada item pontua de “zero” a 4, e o diagnostico de sepse sendo possível com 2 ou mais pontos.
Entretanto, não devemos hesitar: apenas a triagem positiva já nos dá respaldo suficiente para tratamento imediato!!
Assim, o tratamento se destacou através de “Bundles” ou “pacotes”. Medidas que juntas aumentam seu beneficio e a sobrevida do paciente. Tais Bundles ou pacotes já passaram por muitas mudanças, sendo atualmente existentes o “Bundle” da “primeira hora” envolvendo coleta de lactato, hemoculturas, administração de antibióticos de expectro adequado, administração de fluidos e administração de vasopressor (drogas vasoativas - medicação dita para “subir” a pressão arterial, quando em níveis mais baixos) na primeira hora da identificação e triagem positiva do paciente em potencial sepse; como também persistente uma reavaliação do paciente após todas estas medidas em até 6 horas, com nova coleta de lactato.
Após essa primeira “etapa” do tratamento, há a necessidade de reavaliação constante, com estudo e observação continua de parâmetros clínicos (hemodinâmicos, perfusionais), laboratoriais e orgânicos.
Tais medidas em conjunto: ferramentas de triagem, diagnostico, “Bundles” para tratamento nas mãos de um médico e de uma equipe de saúde experiente e preparada é capaz de alterar a historia natural da doença sepse e assim culminar em melhores desfechos clínicos e maior sobrevida.









