Meta 4
Assegurar cirurgias com local de intervenção, procedimento e paciente corretos

O Centro Cirúrgico, devido ao seu alto grau de complexidade e interação de diversos processos e equipes, é um setor que apresenta um elevado risco para ocorrência de eventos adversos. Estima-se que 234 milhões de cirurgias extensas (com incisão, excisão, manipulação ou suturas de tecidos, que requerem anestesia regional ou geral ou sedação profunda para controle da dor) sejam realizadas pelo mundo a cada ano. Embora os procedimentos cirúrgicos tenham a intenção de salvar vidas, a falha de segurança nos processos de assistência cirúrgica pode causar danos consideráveis.
Dados mundiais evidenciam que complicações pós-operatórias ocorrem em até 25% dos pacientes internados e que a taxa de mortalidade relatada após cirurgias mais extensas é de 0,5 a 5%. Em países desenvolvidos, cerca de metade de todos os eventos adversos em pacientes hospitalizados estão relacionados à assistência cirúrgica. Nos casos onde o processo cirúrgico leva a prejuízos, ao menos metade deles é evitável. Mesmo em países que possuem centros cirúrgicos com mais recursos e estruturas, os princípios conhecidos de segurança cirúrgica ainda não são aplicados de maneira consistente.
Diante deste cenário, o tema do Segundo Desafio Global, lançado em 2007 pela Aliança Mundial para a Segurança do Paciente (órgão criado pela OMS), foi: “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”. Mais tarde o tema também foi incorporado às Metas Internacionais de Segurança do Paciente como a Meta 4: Assegurar cirurgias com local de intervenção, procedimento e paciente corretos.
Para isso, foram estabelecidos 10 objetivos básicos, que devem nortear a construção do protocolo de cirurgia segura dentro das instituições do mundo todo, com as adaptações locais necessárias:
1. A equipe operará o paciente certo e o sítio cirúrgico certo;
2. A equipe usará métodos conhecidos para impedir danos na administração de anestésicos, enquanto protege o paciente da dor;
3. A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para perda de via aérea ou de função respiratória que ameacem a vida;
4. A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para o risco de grandes perdas sanguíneas;
5. A equipe evitará a indução de reação adversa a drogas ou reação alérgica sabidamente de risco ao paciente;
6. A equipe usará, de maneira sistemática, métodos conhecidos para minimizar o risco de infecção do sítio cirúrgico;
7. A equipe impedirá a retenção inadvertida de compressas ou instrumentos nas feridas cirúrgicas;
8. A equipe manterá seguros e identificará precisamente todos os espécimes cirúrgicos;
9. A equipe se comunicará efetivamente e trocará informações críticas para a condução segura da operação;
10. Os hospitais e os sistemas de saúde pública estabelecerão vigilância de rotina sobre a capacidade, volume e resultados cirúrgicos.
Esses objetivos foram resumidos em um Checklist de uma única página para uso dos profissionais de saúde, a fim de assegurar que os padrões de segurança sejam cumpridos, intitulada “Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica da OMS”.
No ano de 2013, diante das ações da OMS, o Ministério da Saúde estabeleceu o Protocolo para Cirurgia Segura, em anexo à RDC 36/2013. O Protocolo reforça a estratégia de utilizar o Checklist de Cirurgia Segura como uma ferramenta para melhorar a segurança dos pacientes cirúrgicos e reduzir o risco de incidentes.
O Checklist engloba uma sequência rotineira de eventos – avaliação pré-operatória do paciente, intervenção cirúrgica e preparação correta para assistência pós-operatória – cada um com riscos específicos que devem ser minimizados ou eliminados, e suas características fundamentais são: simplicidade, ampla aplicabilidade e possibilidade de mensuração.
Apesar do Checklist ser voltado para a segurança do paciente no período intraoperatório, é de vital importância a atenção nos períodos pré e pós-operatório para proporcionar a continuidade do cuidado e garantir a segurança ao paciente.
Pré-operatório
Preparo do paciente: O preparo do paciente deverá ser realizado nas unidades de origem. É importante garantir que toda a equipe envolvida no cuidado deste paciente esteja ciente do procedimento a ser realizado e participe da orientação e preparo para a realização da cirurgia.
Procedimentos a serem realizados antes do encaminhamento do cliente para o local e realização do procedimento cirúrgico: consulta pré-operatória, identificação do procedimento/cirurgia, prescrição dos cuidados necessários para o preparo para o procedimento, higiene corporal e bucal, identificação do paciente, pesquisa de alergias, indicação do tipo de precaução (se houver), conferência do tempo de jejum, remoção de próteses e adornos, punção venosa, aplicação do termo de consentimento para o procedimento, demarcação de lateralidade e organização do prontuário.
Transoperatório
Na sala de cirurgia antes da indução anestésica, é realizada a segunda etapa de verificação do checklist de Segurança Cirúrgica, etapa conhecida como SIGN IN. Com a presença da equipe de enfermagem, do anestesiologista e pelo menos um dos cirurgiões, deverá realizar, em voz alta, a conferência dos seguintes itens: identificação do paciente, histórico de alergias, via aérea difícil/risco de aspiração, conferência de exames laboratoriais pelo anestesiologista, reserva de hemocomponentes em caso de risco de perda sanguínea, necessidade de acesso venoso central, necessidade de material especial, equipamentos e materiais de anestesia presentes em sala e funcionantes, antiobioticoprofilaxia e preenchimento do quadro de Checklist com todos os dados relevantes para o procedimento.
A terceira etapa de verificação, conhecida como TIME OUT, é realizada antes da incisão cirúrgica e requer a presença de toda a equipe envolvida no procedimento cirúrgico. Deve ser verificado: identificação do paciente (verbalmente e pela pulseira de identificação), identificação do procedimento, identificação da lateralidade (quando aplicável), confirmação da administração de antibiótico profilático 30-60 minutos antes da incisão da pele, conferência da disponibilidade e esterilização dos materiais, conferência da disponibilidade de exames de imagem.
Antes do paciente sair da sala cirúrgica, é realizada a quarta e última etapa de verificação do checklist, o SIGN OUT. É nessa etapa que deverá ser realizada a identificação e conferência de peças para anátomo-patológico, e em procedimentos cirúrgicos onde haja exposição de cavidade, faz-se necessário a contagem do número de instrumentais cirúrgicos, gazes, compressas e agulhas antes do início da cirurgia e ao término cirúrgico. Em caso de discrepância na contagem dos itens descritos deverá ser realizado raio-x antes do encaminhamento do paciente para a sala de recuperação pós anestésica (SRPA) ou UTI. A etapa SIGN OUT requer a presença de toda a equipe envolvida no procedimento cirúrgico.
Pós-operatório
Admissão na SRPA ou UTI: alguns itens essenciais a serem verificados na admissão do paciente: exame físico geral, prevenção de hipotermia, administração de medicamentos, controle da dor e promoção de conforto, manutenção da integridade da pele e segurança dos dispositivos, permeabilidade de drenos, avaliação da ferida operatória, verificação da permeabilidade e débitos de drenos e sondas, balanço hídrico quando necessário, orientações e apoio psicológico, monitorização dos sinais vitais.
Quando o paciente for admitido na SRPA deverá ser aplicada a escala de avaliação da recuperação pós-anestésica (Escala/Índice de Aldrete/Kroulik) e, em clientes submetidos à anestesia espinhal, a Escala de Bromage.
Alta segura da SRPA: a avaliação para alta do cliente da SRPA é de responsabilidade do médico anestesista, que avaliará de forma detalhada o estado geral do paciente, exames laboratoriais e a progressão dos resultados das escalas (Aldrete/Kroulik ou Bromage).
Um estudo multicêntrico internacional, realizado em 2009, apontou reduções relevantes nas taxas de complicações cirúrgicas e mortalidade após a implantação do Checklist de Cirurgia Segura. As complicações reduziram em 36% e a mortalidade em 47%.
As 6 Metas Internacionais de Segurança do Paciente são interligadas. Abordamos sobre a Meta 4, e observamos que seu pleno desenvolvimento depende da implementação da identificação correta, comunicação efetiva, segurança na administração dos medicamentos, bem como das que ainda serão apresentadas a seguir: higienização das mãos e prevenção de lesão por pressão e quedas.









