Setembro Amarelo: saúde mental em foco

O Setembro Amarelo é uma campanha nacional de conscientização sobre a prevenção do suicídio organizada, desde 2014, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em conjunto com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Ela visa ampliar a abordagem do tema ao longo do mês de setembro, que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro), sensibilizando a população sobre a importância de desmistificar os estigmas e tabus sobre o tema, bastante arraigados em nossa cultura, e de se ofertar assistência precoce diante de sinais de possível ideação suicida. A partir do conteúdo da cartilha “Suicídio – Informando para prevenir”, elaborada por tais associações, serão trazidas a seguir algumas informações sobre o tema.
Dentro do que se denomina comportamento suicida estão inseridos os pensamentos, planos e tentativas de suicídio. Estimas-se que aproximadamente 17% dos brasileiros já pensaram, em algum momento, em tirar a própria vida (Botega, et al, 2005). De acordo com dados do DataSUS, o total de óbitos no país por lesões autoprovocadas dobrou de cerca de 7 mil para 14 mil nos últimos 20 anos, superando as mortes em acidentes por moto. Tais índices tornam o suicídio uma questão importante para a saúde pública, demandando maior atenção da sociedade e, principalmente, dos profissionais de saúde de todos os níveis de atenção para a avaliação e intervenção adequada diante da identificação dos fatores de risco.
O suicídio é descrito como um ato deliberado executado pelo indivíduo, utilizando meios que acredita ser letal, de forma consciente e intencional (ainda que ambivalente), cuja intenção é a morte. Contudo, ele não deve ser considerado somente como resultado de acontecimentos pontuais em sua história pessoal, sendo, na verdade, um comportamento decorrente de um processo complexo de interação entre fatores psicológicos, biológicos, culturais e socioambientais.
Os principais fatores de risco para o suicídio são a presença de ideias e planos para suicidar-se, de familiares que tentaram suicídio ou que se suicidaram, a existência de doença mental e de tentativa de suicídio prévia. Estima-se que em torno de 50% das pessoas que se suicidaram tenham apresentado tentativa prévia e que uma taxa ainda maior apresentasse doença mental, frequentemente não diagnosticada, não tratada ou tratada de forma inadequada. Dentre os transtornos psiquiátricos apresentados, os mais comuns são: depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras substâncias, transtornos de personalidade e esquizofrenia.
Para além de tais fatores, outros aspectos sociais, psicológicos e de saúde, tais como doenças limitantes ou quadro de dor crônica também devem ser levados em conta, uma vez que também estão mais associados com o comportamento suicida. Alguns dos aspectos sociais e psicológicos são:
Aspectos sociais:
- Gênero masculino,
- Idades entre 15 e 30 anos e acima de 65 anos,
- Sem filhos,
- Moradores de áreas urbanas,
- Sem atividade laboral ou aposentados,
- Em isolamento social,
- Solteiros, separados ou viúvos,
- Populações especiais (ex: indígenas, adolescentes e moradores de rua).
Aspectos psicológicos:
- Perdas recentes,
- Personalidade impulsiva, agressiva ou humor instável,
- Ter sofrido abuso físico ou sexual na infância,
- Desesperança, desespero e desamparo.
- Ambivalência, rigidez e impulsividade.
Os fatores de proteção diante do risco de suicídio, menos estudados que os fatores de risco, podem incluir:
- Percepção positiva sobre si mesmo,
- Rede de apoio social e familiar,
- Espiritualidade,
- Atividade laboral,
- Capacidade de adaptação a diferentes situações,
- Desempenho de papéis e funções na família/comunidade,
- Acesso a serviços e cuidados de saúde mental.
A prevenção do suicídio não deve estar restrita apenas aos serviços de saúde mental, mas sim, ocorrer em todos os âmbitos do sistema de saúde, principalmente nos serviços que atuam como porta de entrada. A avaliação cuidadosa de uma equipe atenta e capacitada permite um melhor manejo e o encaminhamento correto dos pacientes com risco suicida para a atenção especializada, tendo um papel fundamental na prevenção ao suicídio.
Para além das equipes de saúde, é necessário que a sociedade como um todo esteja implicada em dirimir tabus através da divulgação de informações adequadas sobre o tema, e a importância de buscar o tratamento adequado e abertura para o diálogo e reflexão sobre as questões relacionadas à saúde mental. Desta forma, a maior disponibilidade de se oferecer suporte a pessoas que apresentam fatores de risco, ainda que possam não apresentar comportamento suicida, ajuda a prevenir o agravo da situação que possa levar ao suicídio, buscando diminuir os preocupantes índices de suicídio em nosso país.
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