Reduzir o risco de quedas e lesões por pressão
Finalizando a nossa série de textos sobre as Metas Internacionais de Segurança do Paciente, abordaremos a Meta 6: Reduzir o risco de quedas e lesão por pressão. Estas são duas condições que, quando ocorrem, potencializam agravos no estado de saúde do paciente, podendo aumentar o tempo e custo da internação, além de ter o óbito como desfecho muitas das vezes.
Para a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a queda é definida como deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil, provocada por circunstâncias multifatoriais que comprometem a estabilidade, resultando em dano ou não. A queda pode ocorrer da própria altura, da maca/cama ou de assentos. Se durante um deslocamento há necessidade de amparar o paciente repentinamente, mesmo que ele não chegue ao chão, também é considerado queda.
Ao ser internado, é importante que sejam identificados os fatores de risco para quedas que são:
Para realizar a classificação do risco de queda existem escalas validadas, amplamente utilizadas no mundo todo. Em pacientes adultos, as mais aplicadas são a Escala de Avaliação do Risco de Queda Johns-Hopkins (JH-FRAT) e a Escala de Morse, e para pacientes pediátricos, a Escala Humpty- Dumpty.
As ações de prevenção incluem a classificação do risco de queda de todos os pacientes na admissão e sinalização através de identificadores (por exemplo, pulseiras coloridas). É importante que tanto o paciente quanto os familiares sejam orientados sobre o risco de queda avaliado e que sejam incluídos nos cuidados de prevenção, como manutenção das grades elevadas, solicitação de auxílio de um profissional para sair do leito, utilização de equipamentos para auxiliar a marcha, como andadores ou bengalas. Outra medida é adequar, sempre que possível, o horário de administração de medicamentos como diuréticos no período diurno e psicotrópicos no período noturno, evitando que os efeitos desses medicamentos potencializem o risco de queda.
Em caso de queda, o profissional que presenciou ou realizou o primeiro atendimento deve registrar em prontuário e realizar a notificação da ocorrência, relatando as circunstâncias, possíveis danos e medidas implementadas. Dessa forma é possível identificar as falhas no processo e instituir medidas de melhoria para prevenção do evento.
Para o National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) alesão por pressão (LPP) é definida como um dano localizado na pele e/ou tecidos moles subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea ou relacionada ao uso de dispositivo médico ou outro artefato. A lesão pode se apresentar em pele íntegra ou como úlcera aberta, e ocorre como resultado da pressão intensa e/ou prolongada em combinação com fricção e cisalhamento.
Os fatores de risco para desenvolvimento de LPP são: mobilidade alterada, extremos de idade, deficiência nutricional (desnutrição e desidratação), incontinência urinária/fecal, alteração na sensibilidade da pele, alteração do estado de consciência e presença de doença vascular.
Assim como no risco de queda, recomenda-se a classificação do risco para desenvolvimento de LPP na admissão do paciente, sendo a Escala de Braden a mais utilizada. Durante a admissão também é importante avaliar a pele para detectar a existência de LPP já instaladas e implementar os cuidados necessários o mais precocemente possível.
Os pacientes devem ser reavaliados diariamente quanto ao risco de desenvolvimento de LPP, bem como ter a pele inspecionada, em especial as regiões de proeminências ósseas, para que as estratégias de prevenção sejam ajustadas conforme suas necessidades.
As medidas de prevenção incluem mudança de decúbito, no mínimo a cada 2 horas, e uso de coxins e travesseiros para auxiliar na redistribuição das áreas de pressão. Para pacientes acamados de alto risco e com restrição de mobilidade, há opções complementares como colchões piramidais (“caixa de ovo”) e pneumáticos, além de produtos tópicos aplicados, principalmente, em áreas de proeminências ósseas como cremes barreira e películas protetoras. Uma medida simples e de extrema importância é a manutenção dos lençóis e fronhas bem esticados, livre de dobras e folgas que propiciem a fricção e cisalhamento. A pele deve ser mantida hidratada e livre de umidade (transpiração, urina e fezes), e para isso é necessário adequar a ingestão hídrica e o suporte nutricional adequado. O manejo da dor também é considerado um fator de prevenção, pois um paciente com dor tende a ficar mais inquieto no leito, aumentando a fricção e cisalhamento. A mobilização precoce é fundamental, tanto para o alívio da pressão quanto para melhora da circulação o quanto antes. De acordo com o estado clínico o paciente deve ser incentivado e auxiliado a sair do leito e a deambular. Para pacientes acamados e ainda sem condições realiza-se a mobilização no próprio leito (ativa ou passiva).
Concluindo nosso percurso de apresentação das Metas Internacionais, observamos que a implantação de uma Cultura de Segurança dentro das instituições de saúde é um processo contínuo e dinâmico, que demanda engajamento de gestores e colaboradores, reconhecimento de vulnerabilidades, fortalecimento de processos e mudanças de atitudes. É um caminho desafiador, mas o retorno em benefícios ao paciente, a melhora da dinâmica de trabalho e às instituições como um todo é evidente e vale todo o esforço empregado.