A higienização das mãos é considerada mundialmente a medida mais simples e eficaz para prevenção de infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS). As IRAS são um problema grave que aumentam o tempo de internação, a morbidade e mortalidade dos pacientes, além dos custos para os serviços de saúde.
Semmelweis foi o médico húngaro, autor de uma experiência histórica ocorrida por volta de 1846, considerada um marco até os dias atuais. Na época, muitas mulheres morriam de febre puerperal. Semmelweis então observou que os médicos saíam da sala de necrópsia e iam direto para a ala obstétrica, e costumavam apresentar um odor desagradável nas mãos. Ele, então, levantou a hipótese de que a febre puerperal fosse causada por “partículas cadavéricas” transmitidas da sala de necrópsia para a ala obstétrica por meio das mãos dos estudantes e médicos. Ele, então, passou a insistir que eles lavassem suas mãos com solução clorada após as necropsias e antes de examinar as pacientes da ala obstétrica. No mês seguinte após esta intervenção, a taxa de mortalidade caiu de 12% para 1%. Desta forma, Semmelweis demonstrou que a higienização apropriada das mãos podia prevenir infecções puerperais e evitar mortes maternas.
Infelizmente, mesmo com todo o conhecimento alcançado, com evidências científicas, disponibilidade e aprimoramento de recursos, ainda se observa uma baixa adesão dos profissionais da saúde à prática de higienização das mãos. Quando há a adesão, as técnicas recomendadas não são seguidas corretamente.
O Impacto da Higienização das Mãos é diretamente proporcional à adesão dos profissionais, sendo medido através da seguinte equação:
Impacto da Higienização das Mãos = Eficácia do produto utilizado (%) x Adesão (%).
Exemplificando, se um produto é 100% eficaz mas somente 20% das pessoas aderem, o impacto é de 20%. Por outro lado, se o produto tem eficácia de 50%, mas possui melhor aceitação, 50% de adesão, o impacto será um pouco melhor, isto é, 25%. Portanto, caso o profissional de saúde não realize a higienização das mãos por qualquer razão (falta de tempo, indisponibilidade de pia ou produto), o resultado deixa a desejar, não importando quão eficaz seja o produto na redução microbiana das mãos contaminadas.
Nesse contexto, O Primeiro Desafio Global lançado em 2005 pela Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, teve como lema “Uma Assistência Limpa é Uma Assistência Mais Segura”. O desafio envolve ações relacionadas à melhoria da higienização das mãos em serviços de saúde e atualmente é a Meta 5 para a Segurança do Paciente.
A higienização das mãos tem por finalidade remover a sujidade, células mortas e microbiota transitória e/ou residente da pele, interrompendo a cadeia de transmissão de infecções por contato. Microbiota transitória é aquela que coloniza a camada superficial da pele e sobrevive por curto período de tempo, podendo ser removida pela higienização simples das mãos com água e sabão ou preparação alcoólica por meio de fricção mecânica. É frequentemente adquirida por profissionais de saúde durante contato direto com o paciente (colonizados ou infectados), ambiente, superfícies próximas ao paciente, produtos e equipamentos contaminados. Já a microbiota residente, que está aderida às camadas mais profundas da pele, é mais resistente à remoção por higienização simples das mãos. Apesar das bactérias que compõem esta microbiota não serem agentes frequentes de infecções, as mãos dos profissionais de saúde podem ser colonizadas por microrganismos patogênicos, passando a fazer parte da microbiota residente. Sendo assim, a pele pode servir como reservatório de microrganismos que podem ser transmitidos por contato direto, pele com pele, ou indireto, por meio de objetos e superfícies do ambiente.
Pode ser transmitido também em áreas críticas como Unidade de Terapia Intensiva (UTI), unidades com pacientes imunocomprometidos e pacientes cirúrgicos, essas bactérias podem ter um papel adicional como causa de IRAS.
As técnicas de higienização das mãos podem variar, dependendo do objetivo ao qual se destinam. Antes de iniciar qualquer uma delas é necessário retirar todos os adornos das mãos e punhos (anéis, pulseiras, relógios), devido ao acúmulo de microrganismos sob esses objetos. As técnicas podem ser divididas em:
Durante a assistência ao paciente, o uso preparações alcoólicas para fricção (álcool em gel) é preferível em relação à higienização com água e sabão (exceto para as situações específicas, como presença de sujidade visível), considerando a frequência que o profissional deve higienizar as mãos, o tempo gasto para tal atividade e a facilidade de acesso. Os dispensadores contendo álcool em gel devem ser disponibilizados à beira do leito do paciente, de forma que os profissionais não necessitem deixar o local de assistência e tratamento para higienizar as mãos e em lugar visível e de fácil acesso.
Foram preconizados cinco momentos essenciais, de acordo com o fluxo de cuidados assistenciais, para higienização das mãos e prevenção das IRAS causadas por transmissão cruzada pelas mãos, são eles:
Dessa forma, a redução das infecções relacionadas à assistência em saúde é de responsabilidade de todos nós e está em nossas mãos!