Leucemias Agudas
Como são caracterizadas, sintomas e tratamentos.

Leonardo Rodrigues de Oliveira
CRM-MG 40981
Médico hematologista e hemoterapêuta do HC-UFTM (Uberaba – MG)
As leucemias agudas representam tipos de cânceres caracterizados pelo bloqueio em etapas precoces do processo de maturação de células hematopoiéticas das linhagens mieloide ou linfoide.
Este bloqueio resulta no acúmulo de células leucêmicas imaturas denominadas blastos leucêmicos, podendo estes corresponder a blastos de linhagem mieloide (mieloblastos) ou linhagem linfoide (linfoblastos). Logo, de acordo com linhagem em que se dá o bloqueio de maturação com consequente acúmulo de mieloblastos ou linfoblastos, as leucemias agudas podem ser classificadas como leucemias mieloides agudas ou leucemias linfoides agudas, respectivamente, sendo estas os principais tipos de leucemias agudas.
As leucemias mieloides agudas têm aumento de sua incidência de acordo com envelhecimento. As leucemias linfoides agudas têm maior incidência entre 1-5 anos de idade e segundo momento de maior incidência após os 50 anos de idade. Afetam ambos os sexos, sendo maior a ocorrência entre homens.
O acúmulo de blastos leucêmicos promove a exaustão de capacidade de medula óssea normal em manter a hematopoiese normal, logo, o prejuízo da capacidade de produção de hemácias (advindo anemia), produção de plaquetas (advindo plaquetopenia com tendência à hemorragia) e produção de leucócitos normais (advindo tendência a infecções).
Os sinais e os sintomas que quando presentes devem alertar para o diagnóstico de leucemias agudas se relacionam à intensidade e à velocidade de progressão de anemia (astenia, fadiga, palidez, dispneia, palpitações) e à intensidade da plaquetopenia (sangramentos cutâneos e mucosos, além da ocorrência de sangramentos potencialmente fatais como os em sistema nervoso central, trato gastrointestinal ou trato geniturinário).
Ainda em decorrência da redução de neutrófilos normofuncionais, há aumento do risco de infecções, estas potencialmente fatais e manifestas de acordo com o órgão comprometido, tendo como principal sinal/sintoma a ocorrência de febre. Outros sinais e sintomas decorrem do aumento do volume de órgãos devido à infiltração por blastos leucêmicos, sendo os órgãos mais comumente comprometidos fígado, baço, linfonodos e pele.
As alterações laboratoriais mais marcantes podem ser detectadas na análise do hemograma. Anemia e plaquetopenia são encontradiças. A contagem total de neutrófilos pode se apresentar normal, reduzida (leucopenia) ou aumentada (leucocitose).
Mediante suspeita clínica e laboratorial, o diagnóstico se baseia em análises de sangue periférico ou,
preferencialmente, medula óssea com a condução de exames específicos para a caracterização dos blastos quanto à (1) morfologia, (2) dados de imunofenótipo (habitualmente definido por análise de expressão de marcadores de imaturidade, ativação celular e linhagem por técnica de citometria de fluxo) e (3) dados genético-moleculares (análise de cariótipo e de biologia molecular).
Estabelecido o diagnóstico e definido o grupo de risco a que o paciente pertence, a proposta de tratamento deve levar em consideração o estado de desempenho do paciente e sua capacidade de enfretamento do câncer (pacientes idosos e com disfunções orgânicas agudas ou crônicas podem ser inelegíveis para tratamento curativos e, assim considerados, na perspectiva paliativa).
Para os pacientes elegíveis a tratamento, esquemas prolongados de poliquimioterapia consistem o backbone da terapia contra leucemias agudas. Pacientes de elevado risco de recaída, pacientes em recaída da doença (após remissão de doença de duração variável) e pacientes refratários ao esquema inicial de tratamento devem ser considerados para terapia por meio de transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas.
Assim, mediante a disponibilidade de doador de células-tronco hematopoéticas devidamente compatível, o transplante de células tronco hematopoéticas pode ser empregado como terapia antileucemia baseando-se nos princípios de destruição completa de células leucêmicas por meio de quimioterapia de altas doses (mieloablação) e efeito de células do doador enxertadas contra células leucêmicas remanescentes (efeito enxerto versus leucemia). Ainda assim, o transplante de células-tronco hematopoiéticas pode não promover a cura dos pacientes com leucemias agudas que dele dependam.
Para a obtenção de melhores resultados com vistas à cura, a alta suspeição clínica e a adequada avaliação de
informações laboratoriais, principalmente as fornecidas pelo hemograma, são fundamentais. Educação continuada e programas de educação da população são relevantes neste intento permitindo o diagnóstico precoce e a ágil instituição de cuidados específicos.









